quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Homem e o cotidiano





Truman Burbank é uma pessoa especial. Nasceu, cresceu e vive com uma câmera de televisão simplesmente maravilhosa, as atuações são perfeitas de todos os atores, direção, produção, montagem na medida certa e, para completar, a elevação de Jim Carrey para o hall dos atores dramáticos. “Ele esteve absolutamente maravilhoso neste papel.”
Truman, relatando 24 horas o que acontece com ele. A própria cidade em que vive e as pessoas com quem convive são falsas. Só que Truman não sabe de nada disso e segue sua vida naturalmente.
O filme conta a história de Truman Burbank, um vendedor de seguros, que vive desde o nascimento vigiado por câmeras de televisão, vinte e quatro horas por dia. Ele leva alegria e esperança para milhões de telespectadores em todo o mundo, sem saber que é a estrela de um reality show, mercadoria e vítima de um sistema dominador, que procura atender seus interesses, impondo um modelo social permeado por uma falsa e ilusória ideologia. É importante salientar, fundamentando-se na teoria crítica, a existência de duas perspectivas abordadas no filme: a do mundo conhecido por Truman, e a dos telespectadores do grande show.
Esse fato pode ser observado nas cenas em que aparecem as garçonetes, os policiais, as duas senhoras e o rapaz da banheira, pois essas pessoas estão constantemente assistindo ao show, inclusive em seus locais de trabalho e no correr da noite, não demonstrando preocupação com o fato de Truman viver todos os dez mil novecentos e nove capítulos aprisionado para entretê-los e vender-lhes os variados gêneros de produtos circulantes no sistema de livre-mercado. Não são capazes de tomar decisões sem a intervenção de agentes externos (autonomamente) e passam a aderir acriticamente aos valores impostos e dominantes, difundidos pelos meios. Truman, por sua vez, é a personificação dessas pessoas. Vive em um mundo controlado, onde produtores se conjugam harmonicamente, determinando os padrões de consumo, tendo como objetivos principais a venda de mercadorias e o lucro acima de tudo, não importando a qualidade do produto, nem se estão sendo dignos com a humanidade e a sociedade. Não importa como Truman se sinta, ele faz parte desse modelo forçado e assim deverá permanecer. Eis aqui um ponto fundamental do filme, mostrando algumas das fragilidades da teoria crítica.